De verde anel de folhas a apertar-se infantis,
olha em redor e mal se atreve a contemplar:
sente-se rodeada por ondas de luz,
acha o dia e o verão estranhamente azuis.
Fazem-lhe a corte o vento, a luz, a borboleta:
pela primeira vez sorri, seu coração
abre-se aflito à vida, e aprende a se entregar
à sequência de sonhos da sua pouca idade.
Agora ri-se toda e fulguram-lhe as cores,
intumesce no cálice o dourado pólen,
prova o incêndio do meio-dia abafado,
e à tarde se reclina exausta na folhagem.
Seus bordos lembram lábios de mulher madura
em cujas linhas treme um pavor de velhice:
seu riso brota quente e já nele farejam
a saturação e o amargor do declínio.
Já se enrugam também, e se esgarçam e pendem
sobre o talo, cansadas, as pétalas miúdas.
As cores se desbotam, fantasmais: enorme
é o segredo que envolve o que na morte dorme.
Hermann Hesse
In Andares
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