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quinta-feira, 31 de maio de 2012

AS BORBOLETAS BRANCAS



As borboletas brancas
de vida tão breve
fogem duas a duas
entre o azul e o verde.
Tão paralelamente
e tão iguais de longe
(uma é a outra, uma é a outra...).
Ambas da mesma forma
e do mesmo tamanho,
ambas com o mesmo ritmo.
(uma é a outra, uma é a outra...).
O ar sustenta-as nos ares,
o ar separa-as nos ares,
como um reflexo na água,
uma é a outra, uma é a outra.
Flores de duas pétalas,
logo de quatro, de oito...
(uma e outra, uma e outra...).
Cada uma agora é dupla,
todas duas são uma...
chegam, juntam-se,afastam-se,
vêm, afastam-se, fogem...
... entre o azul e o verde
todas brancas desfolham-se...
( uma é a outra, uma é a outra...)
e passam de uma a outra,
e depois de uma e de outra
apenas são nenhuma.

Cecília Meireles

EPIGRAMA N.o 3


MUTILADOS jardins e primaveras abolidas
abriram seus miraculosos ramos
no cristal em que pousa a minha mão.

(Prodigioso perfume!)

Recompuseram-se tempos, formas, côres, vidas...

Ah! mundo vegetal, nós, humanos, choramos
só da incerteza da ressurreição.


Cecília Meireles ,
in Viagem


terça-feira, 29 de maio de 2012

MARK TWAIN


“Daqui a vinte anos sua maior frustração será com as coisas que você
deixou de fazer do que com as que você fez e deu errado. Então solte
as amarras e navegue para longe do porto-seguro. Pegue os ventos
de mudanças nas suas velas.

Explore.
Sonhe.
Descubra.”


Mark Twain

domingo, 27 de maio de 2012

ROSEANA MURRAY


Azuis e amarelas
borboletas preenchem o ar
que respiro
suas asas percorrem minha
pele,
entram em meu sangue,
deságuam nas mãos com que escrevo
este poema.


- Roseana Murray -

quinta-feira, 24 de maio de 2012

RUBEM ALVES


A vida precisa do vazio:
a lagarta dorme num vazio chamado casulo
até se transformar em borboleta.
A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida.
Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito.
E as pessoas, para serem belas e amadas,
precisam ter um vazio dentro delas.
A maioria acha o contrário;
pensa que o bom é ser cheio.
Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria
e falam sem parar.
São umas chatas quando não são autoritárias.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar.
A essas pessoas é fácil amar.
Elas estão cheias de vazio.
E é no vazio da distância que vive a saudade...

Rubem Alves

DESEJO



Quero asas de borboleta azul
para que eu encontre
o caminho do vento
o caminho da noite
a janela do tempo
o caminho de mim.

Roseana Murray


É PRECISO NÃO ESQUECER NADA



É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles


MIMETISMO



O sábio no jardim sorria
do artifício da borboleta
convertida em folha amarela
até com manchas e defeitos.
O sábio sorria daquela
mentira. O colorido embuste!
Ó fingimento desenhado
por cegos presságios e sustos!
Para salvar seu breve tempo,
- tempo de inseto! – dom dos vivos;
tinha a borboleta bordado
seu sigiloso mimetismo.
(Atrás das máscaras, que morte
pode alcançar o culto pólo
sensível, no pulsante abismo
onde a hora do existir se acolhe?)
Sendo e não sendo, perto e longe,
escondia-se, ignota e inquieta,
guardando, em paredes de medo,
à esperança da seiva eterna.
O sábio nos jardim sorria
do cauteloso fingimento,
de tênue silêncio expectante
sobre os universais segredos.

.
Cecília Meireles

terça-feira, 22 de maio de 2012

NEWTONIANA



Leve como a pluma
a borboleta tranqüila
flutuando no ar.


Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

segunda-feira, 21 de maio de 2012

DESENHO QUASE ORIENTAL



Uma borboleta que voa
sobre uma flor que é o seu retrato,
numa arvore,
parece que chama por ela,
parece que adeja o convite
de amarem-se.


Parece que a flor lhe responde,
que é presa, sem asas, que vive
e morre
no ramo. Parece que é triste
não ir pela brisa de amores
bem longe.


Parece que as duas se entendem,
parece que as duas deploram.
Parece.
Mas sempre há uma brisa mais forte
que leva, com asas quebradas,
as pétalas...



Cecília Meireles
In: Poesia Completa

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ANÍBAL MACHADO


Faça o que lhe digo. Solte primeiro uma borboleta.
Se não amanhecer depressa, solte outras de cores diferentes.
De vez em quando , faça partir um barco.
Veja ande vai.
Se for difícil, suprima o mar
E lance uma planície.


Aníbal Machado

terça-feira, 15 de maio de 2012

AQUARELA AZUL


Pousada sobre a flor,

frágil e bela em demasia!
Tão diáfana que não se sabia,
o que era borboleta, flor...
ou se era só poesia!
  
Tremem as pétalas lilases
ao vento breve.
Fremem as asas anis
à brisa leve.
 
E há um céu sem nuvens
no olhar do poeta,
entre o azul das asas
e o azul da pétala.
 
Lenise Marques


PRIMAVERA E VIDA



Manhã alegre,
canto de cigarra,
sol colorido,
natureza em flor.
É primavera nas nuvens brancas,
no azul festivo.
Borboleta
perpassa o ar
perfumado.
Pousa
na árvore
revestida
de brotos verdes.
É primavera
lá fora,
no pássaro que voa
beijando a flor,
no inseto que zumbe,
nas folhas clorofiladas,
nas pessoas...
É primavera.
Alegria.
Vida...


Delores Pires
In A Estrela e a Busca

VIDA DE FLOR


De verde anel de folhas a apertar-se infantis,
olha em redor e mal se atreve a contemplar:
sente-se rodeada por ondas de luz,
acha o dia e o verão estranhamente azuis.

Fazem-lhe a corte o vento, a luz, a borboleta:
pela primeira vez sorri, seu coração
abre-se aflito à vida, e aprende a se entregar
à sequência de sonhos da sua pouca idade.

Agora ri-se toda e fulguram-lhe as cores,
intumesce no cálice o dourado pólen,
prova o incêndio do meio-dia abafado,
e à tarde se reclina exausta na folhagem.

Seus bordos lembram lábios de mulher madura
em cujas linhas treme um pavor de velhice:
seu riso brota quente e já nele farejam
a saturação e o amargor do declínio.

Já se enrugam também, e se esgarçam e pendem
sobre o talo, cansadas, as pétalas miúdas.
As cores se desbotam, fantasmais: enorme
é o segredo que envolve o que na morte dorme.

Hermann Hesse
In Andares

SOL DE MARÇO


Embriagada de ardor matinal,
tonteia uma borboleta amarela.
Encolhido e com sono, um homem velho
descansa sentado junto à janela.

Entre as folhas da primavera, um dia
de viagem cantando partiu ele:
de uma porção de ruas a poeira
passou voando sobre os seus cabelos.

Naturalmente as árvores em flor
e as borboletas voando amarelas
parecem hoje as mesmas de outros tempos:
como se o tempo não tocasse nelas.

Os perfumes e as cores, entretanto,
tornaram-se mais finos e mais raros:
fez-se mais fria a luz, e o próprio ar
parece mais difícil respirar.

Como abelha a zumbir, a primavera
baixinho entoa os seus graciosos cantos:
a borboleta adeja em amarelo,
e o céu vibra em cristal de azul e branco.


Hermann Hesse
In Andares


DONALD MALSCHITZKY


Talvez a borboleta tenha
inveja da flor,
talvez a flor
da borboleta.
Talvez apenas se amem.


Donald Malschitzky
In Cabeça de Vento


BORBOLETA VIOLENTA


Não penseis que seja do tempo ou do vento ou da chuva:
nada disso - os jasmins caídos
foram destroçados por uma só borboleta.

Chegou como um invasor, grande, amarela, poderosa,
assaltou com avidez as flores tranquilas,
brancas em seu leito verde,
deixou-as cair, passou adiante,
saciou-se com desespero,
voou para longe,
desapareceu por outros jardins,
deixou despregadas as pequenas corolas
que rolaram como estrelas
e aí estão perfeitas e brancas, sem saberem que já estão mortas.

Tudo isso para nós foi um brevíssimo instante:
não sei, no tempo das borboletas e das flores,
no alto relógio de Deus.


Cecília Meireles
In Palavras e Pétalas







quinta-feira, 10 de maio de 2012

METAMORFOSE


As borboletas são as flores
que, enfim, conseguiram voar,
mas vivem a rondar as plantas
como quem ronda o antigo lar;


há sempre, pelo ar, um jardim
de rosa múltipla e jasmim,


e há, talvez, a vontade enorme
em tudo de perder seu peso,
ter a leveza de quem dorme,


ser a lembrança no abandono,
ou luz de estrela se apagando.


Alberto da Cunha Melo
In: Dois caminhos e uma oração


MANOEL DE BARROS


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.



Manoel de Barros
In: Retrato do artista quando coisa

domingo, 6 de maio de 2012

ALICE RUIZ


Sim.
Todos os poemas são de amor
Pela rima, pelo ritmo, pelo brilho
Ou por alguém, alguma coisa
Que passava na hora
Em que a vida
virava palavra.


Alice Ruiz


O QUE O VENTO NÃO LEVOU...



No fim tu hás de ver que
as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:


um estribilho antigo,
um carinho no momento preciso,
o folhear de um livro de poemas,
o cheiro que tinha um dia
o próprio vento...

Mário Quintana

CLARICE LISPECTOR



"...Sabe o que eu quero de verdade?!
Jamais perder a sensibilidade, mesmo
que às vezes ela arranhe um pouco a alma.
Porque sem ela não poderia sentir
a mim mesma..."!

Clarice Lispector

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

SUSSURRO



Aquiete-se para ouvir o silêncio;
a clorofila escorre pela haste,
a sombra e o sol ecoam um contraste
de quentes e frios na linha divisória.
Tente escutar a história da brisa
quando passa empurrando
a bruma,que,tola,embaça a púrpura da rosa.
Esta conta prosa de sacerdotisa.
Faça atenção ao momento de explosão
da metamorfose
que irrompe em grande dose
de véus e açúcares.
Sinta o cochilo dos nenúfares.
Se conseguir atingir
o ponto mais profundo da quietude,
vai poder ouvir o coração do colibrí.
Ele bate minúsculo num peito passarinho.
A Terra se mobiliza para entoar
uma sonata azul em homenagem
a esse músculo coberto de plumagem,
que tão pequenininho é tão capaz de amar.


Flora Figueiredo

terça-feira, 1 de maio de 2012

OS POEMAS



Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

TASSO DA SILVEIRA


Um passarinho canta
para o canto perder-se.

Para o canto fundir-se
no éter puro e sereno,
no silêncio das coisas,
no mistério dos seres.

Um passarinho canta
apenas porque é vida:
a vida é apenas canto,
canto efêmero.

Tasso Da Silveira
In: Poemas De Antes


MANOEL DE BARROS


Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.

Manoel de Barros




MARIO QUINTANA


Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?

Mário Quintana