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quinta-feira, 18 de março de 2010

Saudade



Saudade

Não existe nada melhor que sonhar...
A emoção do primeiro abraço,
O beijo, o rosto corado,
o corpo suado, o perfume no ar...

Teu caminhar apressado
no desespero de me alcançar,
como se eu fosse fugir...

Os olhos brilhantes e serenos,
assim como de uma criança!
Que saudade do raro momento
que exige do meu coração recordar...

Momentos tão breves,
mas de tamanha grandeza...
que lamentei acordar!!!

Glória Dantas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

AINDA ASSIM...



AINDA ASSIM...

ainda que se apague a última estrela do meu céu
ou que se cale o cântico de esperança que há em mim
ainda que murche cada flor e fujam os pássaros
nem mais exista futuro a me sorrir

ainda que todos os meus sonhos venham a fenecer
ou se de tanto chorar meus olhos fiquem secos
ainda que a dor se agigante em minha vida
ou se o medo se tornar meu companheiro

ainda que esmaeça o brilho dos meus olhos,
ou que desabe sobre mim a solidão
e eu já não queira esperar o novo dia...

...Ainda assim, eu me alegrarei em Ti, meu Deus
E exultarei na Tua presença, e Te louvarei
Pois és o meu Deus, e Senhor da minha salvação!

Regina Helena

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

AMIGA



AMIGA

É o tempo que te traz, em mansa brisa,
E conta-me teus dias, riso e pranto.
E eu sinto o coração, quando agoniza...
Ou a esperança aberta por teu canto.

Se a vida uma tristeza te improvisa,
Ou flores te oferecem seu encanto...
Minh’alma te percebe a voz concisa...
E o teu vazio – que pede acalanto!

Mas também conta o tempo da grandeza,
Da imensidão que é a tua natureza,
Que doas ao caminho e ao peregrino.

Bei sei-te: tu me sabes, toda, inteira...
De caminhadas muitas... Companheira...
Distância é a palavra sem destino!

Patrícia Neme

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

LEMBRANÇAS DO LUGAR




Querida, vê no pranto que extravasa
o coração quando a lembrança aflora...
Os gerânios... As rosas... Como atrasa
o tempo entre o crepúsculo e a aurora!

Há sonhos que ainda vagam pela casa
em meu rústico albergue da memória...
E ainda um lírio que a min’alma vaza
de saudade do amor que ainda chora...

Nos beirais da varanda as andorinhas
bailam, querida, e as ninfas seminuas
das ribeiras em flor bailam sozinhas...

Beirando a vida nos beirais das ruas,
tu vives de sentir saudades minhas
e eu morro de sentir saudades tuas...

A. Estebanez

'Uns Versos Quaisquer'



Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . . Tudo é o mesmo . . . Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . . Pra quê o pensamento? . . .

Fernando Pessoa
11.10.1914

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Poema da Noite



Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguem especial... (e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas...
"quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas tambem já fui rejeitado;
Fui amado e não amei...

Charles Chaplin

AUTOPSICOGRAFIA


AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

Só tu




Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram,
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste! –
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nest’alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

Paulo Setúbal

As sem-razões do amor


As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade

Soneto de Fidelidade




De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Moraes

Soneto do Amor Total



Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Vinícius de Moraes

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Quero apenas cinco coisas...



Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Saudade



Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

Pablo Neruda

Os poemas são pássaros que chegam





Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana